Ativistas pró-democracia de Mianmar pediram nesta quarta-feira (1) o fechamento de todos os estabelecimentos comerciais do para marcar o segundo aniversário do golpe que derrubou o governo de Aung San Suu Kyi, enquanto a junta militar insinua que pode prorrogar o estado de emergência e adiar as eleições.
Manifestantes na cidade comercial de Yangun posicionaram cartazes em pontes para convocar a população a participar da “revolução”.
Eles pediram o fechamento do comércio e que as pessoas permanecessem em casa durante grande parte do dia para repudiar o golpe.
Os militares justificaram o golpe de 1º de fevereiro de 2021 com denúncias sem comprovação de uma fraude nas eleições do ano anterior que o partido de Suu Kyi venceu por ampla maioria.
Países ocidentais adotaram sanções contra os militares na data, mas medidas similares pouco modificaram o panorama do regime militar em 24 meses.
“Hoje eu fiz menos sanduíches e todos foram vendidos”, disse à AFP um vendedor de Yangon, que pediu para não ser identificado por medo de represálias.
“As pessoas compraram cedo, vai acontecer uma greve de silêncio (…) Não queremos perder”, completou.
Ao mesmo tempo, uma passeata de “patriotas, seguidores dos militares, monges e da população” estava programada para o centro de Yangun.
A embaixada dos Estados Unidos na cidade emitiu um alerta sobre a “crescente atividade antigoverno e a violência” nos dias próximos do aniversário.
O estado de emergência imposto pela junta deveria acabar em janeiro e, segundo a Constituição, as autoridades seriam obrigadas a iniciar um processo eleitoral.
Mas na terça-feira o Conselho Nacional de Defesa e Segurança, controlado pela junta, se reuniu para discutir a situação do país e determinou que “ainda não voltou à normalidade”.
A oposição da junta militar, como as “Forças Populares de Defesa” e um governo à sombra dominado por representantes da Liga Nacional pela Democracia (LND), partido de Suu Kyi, tentaram tomar o poder estatal “com agitação social e violência”, segundo o conselho.
O conselho prometeu um “anúncio necessário” para quarta-feira, sem revelar detalhes.
Os governos dos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido anunciaram uma nova série de sanções contra integrantes da junta militar e instituições apoiadas pelos militares.
O Reino Unido, ex-potência colonial de Mianmar, estabeleceu sanções contra, entre outras, empresas que fornecem combustíveis aos militares e permitem que executem sua “bárbara campanha de ataques aéreos em uma tentativa de permanecer no poder”.
A Austrália também anunciou as primeiras sanções contra 16 membros da junta “responsáveis por graves abusos dos direitos humanos” e dois grandes conglomerados controlados pelos militares”.
Mais de 2.900 pessoas morreram na repressão militar contra os dissidentes desde o golpe e mais de 18.000 foram detidas.
A junta militar concluiu recentemente uma série de julgamentos a portas fechadas contra Suu Kyi, condenada a um total de 33 anos de prisão, um processo que grupos de defesa dos direitos humanos chamaram de farsa.
“Nosso principal desejo para 2023 é liberdade e voltar para casa”, declarou Thet Naung, ativista da região Sagaing (norte), onde os militares e dissidentes travam combates.
Fonte: IstoÉ