A invasão russa aproximou a Ucrânia da União Europeia (UE), mas sua adesão plena ao bloco requer anos de negociações e deve obter a aprovação de todos os seus membros.
Esse processo será um dos temas de discussão na cúpula UE-Ucrânia, que acontecerá na sexta-feira (3), em Kiev.
“A Ucrânia espera resultados práticos tangíveis desta cúpula”, afirmou o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba.
Um funcionário europeu de alta posição jogou, no entanto, um balde de água fria nas aspirações da ex-república soviética.
“As expectativas dos ucranianos são muito altas, mas, na Europa, temos diferentes pontos de vista (…). Os ucranianos devem cumprir todas as condições para abrir as negociações de adesão”, disse o responsável, que pediu anonimato para não ser identificado.
A UE “não pode integrar a Ucrânia como era antes da guerra. Precisamos de reformas”, frisou.
A UE já delineou um plano de reforma para a Ucrânia, concentrado no combate à corrupção e no fortalecimento do Estado de Direito.
Em 2021, a UE concedeu à Ucrânia, em tempo recorde, a condição de país-candidato, um assunto que não era considerado prioritário antes do início da guerra.
André Haertel, analista do Instituto Alemão para Assuntos de Segurança Interna, duvida de que as negociações de adesão sejam abertas este ano, embora, diz ele, “se deva dado algo concreto aos ucranianos em 2023”.
Sébastien Maillard, diretor do Instituto Jacques Delors, observou, por sua vez, que a UE continuará “sob pressão com a insistência da Ucrânia”.
Na opinião de Haertel, “se as negociações para a adesão da Ucrânia à UE começarem em 2024, a adesão levará de cinco a sete anos”. Já Maillard considera “de dez a 15 anos como mais provável”.
Um diplomata europeu resumiu as dificuldades de se encontrar o equilíbrio nas negociações: “Se nós fizermos os ucranianos esperarem 25 anos, vamos perdê-los. Mas, se os fizermos entrar [na UE] rápido demais, também vamos perdê-los”.
Solução pragmática
A duração da guerra e seu resultado serão decisivos. O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, já advertiu que a Rússia se prepara para uma longa guerra.
Este cenário faz da incorporação gradual uma alternativa, porque “permite que a Ucrânia se imponha sem forçar a porta da UE”, explicou Maillard.
Este avanço gradual permitiria à Ucrânia ter acesso aos programas europeus e se beneficiar de financiamento europeu durante as negociações, afirmou o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, defensor desta fórmula.
A contrapartida seria a reversibilidade do processo. Se o candidato recuar no respeito ao Estado de Direito, por exemplo, alguns dos benefícios dessa integração podem ser retirados, disse ele.
Os ucranianos estão convencidos de sua capacidade de ingressar rapidamente no cenário comunitário e “farão todo o possível para mostrar que podem fazer isso”, comentou um diplomata europeu.
A Ucrânia “recebeu o ‘status’ de candidato em um tempo recorde. Isso reflete uma politização do processo de ampliação, que até agora era estritamente legal”, afirmou a mesma fonte.
Para Haertel, “os obstáculos são enormes” pelo caminho.
Além disso, há vários países que aguardam pacientemente na fila. A Macedônia do Norte é formalmente candidata à adesão desde 2005; Montenegro, desde 2010; Sérvia, desde 2012; e Albânia, desde 2014.
A Turquia se tornou país candidato em 1999 e iniciou negociações formais em 2005. Desde 2019, no entanto, as discussões se encontram, praticamente, em ponto morto.
A Comissão Europeia (braço Executivo da UE) deve apresentar um relatório no outono (hemisfério norte) sobre os avanços feitos pela Ucrânia em seu empenho para aderir plenamente ao bloco.
Fonte: IstoÉ